Milionários com bolsa, favela fora da sala: a fraude no acesso à universidade em Santa Catarina

6/25/20252 min read

A intenção era nobre: ampliar o acesso ao ensino superior pra quem mais precisa.


O programa Universidade Gratuita, lançado em 2023 pelo governo de Santa Catarina, prometia bolsas integrais em faculdades privadas para estudantes de baixa renda. Mas, dois anos depois, o que se vê é um retrato escancarado do Brasil que a quebrada já conhece: enquanto o topo burla regras, a base segue fora da sala de aula.

Riqueza camuflada com cadastro de pobre

Segundo levantamento do Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC), mais de 18 mil inscrições suspeitas foram encontradas — entre elas, 858 bolsistas milionários. Isso mesmo: gente com Porsche de R$ 603 mil, Land Rover de R$ 733 mil, barcos, galpões, imóveis e salários altos... tudo isso, registrado em nome de quem declarou baixa renda.

Em muitos casos, o próprio CPF do estudante estava ligado a empresas lucrativas, altos patrimônios ou vínculos incompatíveis com o perfil exigido pelo programa.

Fraude institucionalizada?

A investigação não parou nos bolsistas. O TCE suspeita da atuação de consultorias especializadas em burlar sistemas, além de conivência de instituições de ensino privadas. A Polícia Civil de SC (por meio da Deic) já iniciou apurações por falsidade ideológica e enriquecimento indevido.

Se confirmada a fraude, os responsáveis deverão devolver os valores investidos com correção — e poderão ser responsabilizados criminalmente.

Enquanto isso, na quebrada…

A denúncia é revoltante, mas infelizmente não surpreende. A juventude preta e periférica vive na fila do Enem, do Sisu, dos cursinhos populares, muitas vezes equilibrando estudos com trampo informal, cuidando de família, sem transporte digno nem estrutura em casa.

Quantos jovens da favela ficaram de fora dessas bolsas enquanto um dono de galpão com carro de luxo passou na frente?

Educação é ponte, não atalho

O acesso ao ensino superior não é um favor — é um direito. Mas quando esse direito vira alvo de fraude de quem já tem tudo, a ponte vira atalho pros privilegiados, enquanto quem mais precisa continua no chão, olhando de longe.

Como diz Katiúscia Ribeiro: “O apagamento do conhecimento negro é o alicerce do racismo. Ele vem antes da bala e da corrente.”

E o apagamento da juventude periférica da universidade é parte disso.

O que precisa mudar?

  • Rigor na fiscalização dos cadastros e critérios sociais

  • Transparência nos dados e auditorias públicas

  • Apoio real aos estudantes periféricos: transporte, permanência, material

  • Criminalização efetiva das fraudes — sem passar pano

A favela quer estudar. E tem o direito.

Chega de universidade virar privilégio de quem mente.
É hora de garantir que quem nasceu na margem também possa chegar ao diploma.